

Contextualização:
Lucho Bermudez nasceu em 25 de janeiro de 1912, seu pai morreu quando tinha dois anos, e a partir daí foi criado por sua avó. No nucleo familiar que Lucho passou a conviver tinham alguns músicos que o influenciaram e foram seus primeiros mestres. Na cidade de Carmen de Bolívar iniciou no flautim, tocando na banda da cidade. Ainda pequeno se mudou para Aracataca e lá começou a estudar saxofone, flauta e trompete
Ingressou na banda do Batalhão de Córdoba muito novo e conheceu o clarinetista Juan Noguera. Iniciou-se no jazz com Guillermo Rico, e aos vinte e sete anos, formou o grupo, La Orquesta del Caribe. Em 1944 a Orquestra Caribenha foi contratada para a inauguração da Boate Metropolitana de Bogotá, cidade onde morou vários anos.
Em Bogotá trabalhou em emissoras de rádio e conheceu Matilde Díaz, com quem trabalhou na Orquestra do Hotel Granada . Em 1936. Aos 24 anos, dirigiu a Orquestra do maestro José Pianeta Pitalúa, pioneiro no estilo jazz band, e também dirigiu a Orquestra de Emissoras Fuentes por três anos na cidade. Até que em 1939, aos 27 anos, o maestro Lucho Bermúdez fundou a Orquesta del Caribe em Cartagena graças ao apoio de Daniel Lemaitre e José Vicente Mogollón e fez suas primeiras gravações com canções como Marbella, as mulheres de San Diego, Prende la vela , Cartagenerita, Joselito Carnaval e Borrachera.
Em 1946 viajaram para Buenos Aires, se casaram e tiveram uma filha: Gloria María. Na Argentina formou uma orquestra de 22 músicos liderada pelo Maestro Eugenio Nóbile e Eduardo Armani e gravou cerca de 60 músicas na gravadora RCA Víctor. Lá gravou com Matilde e Bob Toledo, obras como Danza Negra , “Solamente a ti”, “Fantasia Tropical” e “Caprichito”. O casamento com Matilde durou dezoito anos mas a dupla artística marcou a memória musical da Colômbia com diversas obras.
De volta para Bogotá, retomaram o trabalho no Hotel Granada, onde o maestro formou a Orquestra Lucho Bermúdez. Em uma turnIe para Medellín no ano de 1948, uma revolta popular ocupou as ruas de Bogotá (ver Bogotazo). Lucho e Matilde acabaram ficando em Medellín por cerca de quinze anos, entremeados por viagens nacionais e internacionais, principalmente ao México e Cuba. Nestas viagens conheceu os maestros Pérez Prado, Ernesto Lecuona e as vozes de Benny Moré e Celia Cruz.
Seu estilo de orquestração dialoga com a obra destes artistas de várias maneiras. A inspiração comum nos elementos rítmicos e melódicos estruturais de matriz africana e nos jogos métricos do romance espanhol. A particularidade de Lucho, e da música colombiana é que além destes pontos em comum com o resto do Caribe, sua obra traz elementos indígenas locais. Como diversos orquestradores desta época é possível notar a influência das big bands de jazz americano, como Count Basie, Benny Goodman e outros. O contraste entre madeiras e metais é muito presente na obra de Lucho Bermudez, que frequentemente faz uso de trompetes e trombones em comentários rítmicos, enquanto que saxofones ocupam a mão direita do piano, com ostinatos parentes dos tumbaos cubanos. Ao mesmo tempo que alterna os timbres entre as partes dos temas. Seu clarinete “endiabrado” floreando de forma aparentemente improvisada entre os arranjos é também uma de suas marcas registradas. De certa forma uma sonoridade timbristica e textural muito próxima de algumas gravações de Perez Prado (CU), Pedro Ferreira (URU), e um pouco de Radamés Gnatalli (BRA).
Uma das marcas da obra do maestro Lucho Bermudez é a diversidade de ritmos e o conhecimento profundo de vários instrumentos, favorecendo na escrita dos arranjos. Gaitas, CÚMBIAS, fandangos, mapalés, e torbellinos, promoveram com sua música uma integração nacional colombiana.
Compôs e arranjou também em gêneros estrangeiros como o tango, o mambo, o jazz, o pasodoble, o bolero e outros. Uma vasta e variada lista que iniciou aos vinte e dois anos quando compôs "Marbella".
Um dos méritos de Lucho Bermudez é ter inserido a música da costa colombiana na cultura nacional. Até 1940 a cumbia e o porro eram ignorados pela sociedade colombiana. A música do Caribe colombiano em Bogotá naquela época era algo exótico e percebido como de mau gosto, as altas esferas sociais reconheciam apenas a dignidade da música de cordas andina e dos ares do exterior. Mas aos poucos Lucho conseguiu que sua música fosse aceita. Quando começou a compor músicas nestes ritmos, a cumbia se incorporou a identidade nacional colombiana e ganhou o mundo. Se tornando um dos gêneros mais populares na América Latina e sendo absorvida pela música pop.
O preconceito da capital com a música litorânea que o maestro introduziu, foi aos poucos cedendo ao som das gaitas, mapalês, cumbias, porros,e danças tradicionais. Adornados em orquestrações de equilibrada simplicidade e sofisticação. Portanto não podemos deixar de apreciar obras fundamentais como: Colombia , Tierra Querida e Fiesta de Negritos e muitas outras!
Cúmbia
A cúmbia é uma das músicas típicas nacionais da Colômbia. Tem suas origens limitadas à zona rural da região norte do país, e graças às iniciativas de Lucho Bermúdez se popularizou pela cidade grande. O ritmo se disseminou por quase todos os países falantes do espanhol na América Latina e é considerado um dos gêneros musicais mais populares na Argentina, Chile e México.
De uns anos para cá, a cúmbia vem sendo mais conhecida aqui no Brasil e podemos encontrar influências deste gênero na Guitarrada Paraense, no carimbó e até mesmo no "sertanejo universitário”.
A CÚMBIA surgiu da mistura das culturas musicais de matriz bantú (grupo étnico africano) e da diversidade dos nativos indígenas que se encontraram na região norte colombiana (llanos). O nome do ritmo possivelmente deriva da palavra CUMBÉ, que pode ser traduzida em festa!
Os instrumentos de percussão dos grupos de cúmbia são:
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MARACON (espécie de chocalho)
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GUIRO (da família do reco reco)
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TAMBORA (tambor grave tocado com baquetas na pele e na sua lateral de madeira)
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TAMBOR ALEGRE (tambor de tronco escavado com a pele tensionada por cordas e cunhas, tocado com as mãos como a conga e o atabaque)
Além da percussão e da voz, as GAITAS colombianas caracterizam a cúmbia mais tradicional. Este instrumento de origem indígena se assemelha a uma flauta. Construído a partir do miolo de um tipo de cactos, cera de abelha e pena de pato.
Assistam aos vídeos abaixo onde este tipo de formação instrumental tradicional pode ser observada:
Desenvolvimento:
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Após contextualizar o universo musical colombiano e a obra de Lucho Bermudez, apreciar os vídeos e áudios, assista com a turma o vídeo com a partitura animada onde os ostinatos que estruturam a polirritmia da cùmbia são executados: https://youtu.be/Je1fxyeP7Xc?si=z0cDWuE0DWWuAAwm
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Com a turma em roda, cante a célula rítmica da TAMBORA utilizando a frase:
VEM AQUI, VEM AQUI, VEM AQUI, VEM CUMBIAR!
Esta frase tem a duração de 4 tempos.
Reparem que nos tempos 1, 2 e 3 a figura se repete e no tempo 4 uma nova célula rítmica se apresenta.
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Cante a célula rítmica da MARACON utilizando o fonema “TCHI”. O maracon (chocalho de cabaça e sementes originário da Colômbia) é tocado sempre no contratempo.
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O TAMBOR ALEGRE cumpre papel mais livre, improvisando e comentando a melodia, mas possui algumas células fixas, como a proposta abaixo com o vocalize:
LUCHO, LUCHO, LUCHO / COLÔMBIA TE QUER /
MUCHO, MUCHO, MUCHO / COLÔMBIA TE QUER
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Com os participantes em roda realize os três ostinatos cantando e percutindo no corpo.
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Marquem o compasso binário (2/2) com um passo básico da dança da cúmbia, onde cada pé marca os tempos indo para trás em movimento cruzado. Como na figura abaixo:
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Depois de todos terem experimentado todos os ritmos cantando, percutindo e dançando, é a hora de pegarmos os instrumentos de percussão. Na ausência dos instrumentos típicos colombianos (o que é mais provável), toda a sorte de chocalhos pode substituir o “maracon”. O “tambor alegre” pode ser imitado facilmente por tambores do tipo das congas, atabaques, derbakes (membranofones médios). A tambôra pode ser tocada em um surdo deitado, com uma baqueta tocando no corpo do instrumento e uma maceta na pele.
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Como desenvolvimento desta atividade, após a incorporação destas claves rítmicas da cúmbia uma possível etapa seria incorporar o canto de alguma canção típica deste gênero. A música “El Pescador” de José Benito Barrios, eternizada na voz da diva colombiana Totó La Momposina tem letra de compreensão, memorização fácil e estrutura poética de canto responsorial muito presente na música de toda América Latina. Uma partitura contendo melodia, harmonia e linha de baixo está disponível no sítio América Vizinha para atender tal desdobramento. A letra se encontra abaixo, junto com um link do youtube na versão da cantora.
Totó La Momposina - El Pescador (live at Real World Studios)
Va subiendo la corriente
Con chinchorro y atarraya
La canoa de bareque
Para llegar a la playa
Habla con la luna
(El pescador)
Habla con la playa
(El pescador)
No tiene fortuna (oh, oh)
Solo su atarraya (oh, oh)





Materiais:
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Instrumentos de percussão
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Acesso a internet
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Projetor
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Aparelho de som
Bibliografia:
LUCHO Bermúdez. La pollera colorá. Bogotá, 1963. Realização de Musicalafrolatino. Intérpretes: Lucho Bermudez, Bobby Ruiz. Bogotá - Colombia, 2016. (4 min.), son., P&B. Disponível em: https://youtu.be/vaxJJLhRDv4?feature=shared. Acesso em: 11 mar. 2024.
MERCHÁN, Miguel Ángel Robayo. EL SALADO: una composición en género de pasillo y gaita a partir de las visiones creativas del maestro ⠼lucho⠽ bermúdez. 2020. 174 f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura En Música, Departamento de Educación Musical, Universidad Pedagógica Nacional, Bogotá - Colombia, 2020.
Morales, H. (2020). ¿Lucho Bermúdez es el padre de la música colombiana? Publicado originalmente en Revista Diners Ed. 245 agosto de 1990. Recuperado: 8/02/2020 de https://revistadiners.com.co/cultura/66654_tu-musica-sera-como-yo-la-va-a-querer-todo-el- mundo-jorge-eliecer-gaitan-a-lucho-bermudez/
Arteaga, J. (1991). Lucho Bermúdez Maestro de Maestros. Bogotá, Colombia: Intermedio Editores.